A Thoracic Cancers International COVID 19 Collaboration, também conhecida como TERAVOLT, é um consórcio internacional que foi criado para compreender o impacto do COVID-19 em doentes com neoplasias malignas torácicas. Formada por médicos especialistas de instituições líderes em todo o mundo, a organização tem como objetivo identificar e compreender os fatores de risco associados à morbidade e mortalidade em doentes com neoplasias torácicas infectadas com COVID-19, bem como determinar as terapias que podem impactar a sobrevivência. O TERAVOLT também fornece à comunidade médica global orientações sobre o manejo de doentes com neoplasias torácicas durante a pandemia de COVID-19.
A plataforma foi criada em tempo recorde, numa tentativa de responder às necessidades criadas pelo momento extraordinário que vivemos. A ideia nasceu em 15 de março de 2020, e o primeiro formulário de relato de caso foi submetido a 18 de março. Rapidamente o projecto reunião o apoio das principais sociedades científicas, nomeadamente a IASLC, a European Society for Medical Oncology (ESMO), a European Thoracic Oncology Platform (ETOP) e a European Respiratory Society (ERS).
Recentemente foram divulgados os dados mais recentes na ESMO 2020, pelo Dr Javier Baena Espinar, médico Oncologista do Hospital 12 de Octubre em Madrid (Espanha). Foram apresentados os dados de um total de 1012 doentes, com origem em 20 países. Cerca de 60% dos doentes tem idade acima dos 65 anos, sendo a maioria fumadores ou ex-fumadores (78%), e em 83% os casos coexistiam outras comorbilidades.
Esta população apresentou alto risco de hospitalização. Do total de doentes, 72% foram hospitalizados No entanto, apenas 12% acabaram sendo admitidos em unidades de cuidados intensivos e 7% submetidos a ventilação invasiva. Estes dados sugerem um menor investimento em doentes com cancro de pulmão em comparação com outros estudos. Claramente, os doentes que mostram benefício da terapêutica do cancro têm direito a tentativas de tratamento para prolongar a vida em face do COVID-19, embora isso possa depender da disponibilidade de recursos.
Uma das principais conclusões do TERAVOLT é a de que os doentes com tumores torácicos malignos têm elevado risco de mortalidade por COVID 19 (32%). A idade, a história tabágica, o estádio, o status perfomance (ECOG = ou >2) e a necessidade de corticóides prévios à infecção, parecem ser factores determinantes do risco de mortalidade por COVID 19, sendo o ECOG prévio à infecção o mais relevante. Estes dados podem ser úteis na predição de risco de morte por COVID 19 nesta população, bem como na decisão das melhores opções terapêuticas para a neoplasia ou para a infecção concomitante, tendo sido proposto como ferramento para esse efeito um normograma.
Importa salientar que, se por um lado, é essencial proteger este grupo de doentes tanto quanto possível da infecção por COVID-19, por outro devemos equilibrar os benefícios da proteção do COVID-19 com o risco de aumento da mortalidade por cancro.
O registro TERAVOLT continuará a coletar dados durante a pandemia em curso, podendo saber mais informações em:
http://teravolt-consortium.org/