Dr.ª Fernanda Estevinho
Oncologista do Hospital Pedro Hispano – ULS Matosinhos
Artigo Escolhido: “Effectiveness of PD-(L)1 inhibitors alone or in combination with platinum doublet chemotherapy in first-line (1L) non-squamous non-small-cell lung cancer (Nsq-NSCLC) with PD-L1-high expression using real-world data”
O artigo selecionado foi: “Effectiveness of PD-(L)1 inhibitors alone or in combination with platinum doublet chemotherapy in first-line (1L) non-squamous non-small-cell lung cancer (Nsq-NSCLC) with PD-L1-high expression using real-world data”, publicado na revista Annals of Oncology em maio, e que tem como autor principal o Professor Maurcie Pérol.
Este estudo de vida real avaliou o tratamento de 1ª linha de doentes com cancro do pulmão de não pequenas-células, não-escamoso, metastizado e expressão de PD-L1 50% com inibidor do checkpoint imunitário (ICI) em monoterapia versus a associação de inibidor do checkpoint imunitário a quimioterapia com dupleto de platino.
É um estudo retrospetivo, que incluiu doentes da base de dados United States Flatiron Health electronic health record, dos EUA, que iniciaram o tratamento entre 24 de outubro de 2016 e 28 de fevereiro de 2019. Foram incluídos 351 doentes que realizaram tratamento com ICI em monoterapia e 169 com a combinação. Todos apresentavam capacidade funcional ECOG 0-1. Foram excluídos doentes com mutações do gene EGFR, rearranjo ALK, ROS-1, ou mutação BRAF.
De realçar que a amostra de doentes tratados com ICI em monoterapia incluía doentes mais velhos (31% < 65 anos e 37% 75 anos versus 46% < 65 anos e 20% anos; p < 0.001) e menos doentes com diagnóstico de novo de cancro do pulmão (77% versus 93%; p < 0.001).
A sobrevivência global (endpoint principal) e sobrevivência livre de progressão no mundo real (endpoint secundário) foram calculadas pelo método de Kaplan-Meier e não apresentaram diferenças estatisticamente significativas, exceto no subgrupo dos não fumadores.
No que se refere à sobrevivência livre de progressão foi de 11,5m no grupo de tratamento com ICI em monoterapia e de 10,8m no grupo da combinação (aHR:1,04; IC95 %: 0,78-1,37; p=0,81). A sobrevivência global foi 22,1m no grupo da monoterapia e 21,0m no grupo da combinação (aHR:1,03; IC95%: 0,77-1,39; p=0,83).
No subgrupo de não fumadores verificou-se que o tratamento com a combinação associou-se a melhoria da sobrevivência global (HR 0,25; IC95%:0,07-0,83) e da sobrevivência livre de progressão (HR 0,40; IC 95%: 0,17-0,95; p=0.04).
Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas para o endpoint principal e secundário nos subgrupos de doentes com metastização cerebral ou hepática.
Como comentário final, realço que se aguardam resultados dos ensaios clínicos randomizados em curso comparando estas duas estratégias terapêuticas de 1.ª linha, e será essencial o estudo do subgrupo de doentes não fumadores.